O procedimento conhecido como correção intrauterina de mielomeningocele fetal é realizado no
Instituto Estadual do Cérebro em parceria com a Maternidade Escola da UFRJ
O nascimento ocorrerá na Maternidade Escola da UFRJ Ft: Maurício Bazílio/SES |
Luzes, equipamentos e instrumentos por todos os
lados. Médicos, enfermeiros e técnicos se espalham pela sala, onde no centro
uma mulher de 39 anos e 24 semanas de gestação começa a ser preparada para
cirurgia. O feto ainda não está em idade gestacional para nascer, mas o pequeno
ser vai passar pela primeira cirurgia de sua vida, ainda dentro do útero da
mãe. A cena que parece retirada de um episódio de série médica de TV acontece
no Instituto Estadual do Cérebro (IEC), no Centro do Rio. O projeto, parceria entre
a Secretaria de Estado de Saúde e a Maternidade Escola da UFRJ, é pioneiro no
estado do Rio e já realizou a cirurgia em 5 pacientes, desde o final do ano
passado.
- Através dessa parceria estamos oferecendo uma
nova perspectiva para essas crianças e suas famílias, disponibilizando uma
cirurgia de alta tecnologia na rede estadual sem qualquer custo a mais para os
cofres públicos. Estamos fazendo história no Instituto Estadual do Cérebro e na
saúde do Estado. Em parceria com a equipe da Maternidade Escola da UFRJ podemos
fazer muito mais com os mesmos recursos e reunindo os melhores profissionais da
rede pública de saúde. Agradeço a toda equipe pela parceria e apoio – destacou
o secretário de Estado de Saúde, Sérgio Gama.
Durante quase 12 horas a equipe
formada por 14 profissionais multidisciplinares, entre eles três obstetras
especialistas em medicina fetal, dois neurocirurgiões e dois anestesistas,
correu contra o tempo para corrigir a má formação congênita no fechamento das
estruturas que protegem a coluna vertebral do bebê operado. A técnica conhecida
como cirurgia fetal a céu aberto para correção intrauterina de
mielomeningocele fetal por mini-esterotomia - Técnica de Peralta - consiste em
colocar o útero para fora do corpo da mãe e por um pequeno orifício, os
habilidosos médicos fazem a correção fechando a pele que protege a medula.
A técnica inovadora criada pelo
médico Fábio Peralta, coordenador de medicina fetal do Hcor e Pró Matre de São
Paulo já foi realizada em mais de 140 pacientes, com excelentes resultados e
foi trazida agora para o Rio pelo Diretor Médico da Maternidade Escola da UFRJ
e Coordenador da Maternidade do Hospital Caxias D'Or, Jair Braga. Reconhecida
desde 2015 pela comunidade científica, a cirurgia também está disponível na
rede estadual de saúde do RJ através dessa parceria entre a SES e a
maternidade.
- Durante um ano estudei com o
professor Fábio e ele me ajudou muito com a cirurgia, vindo operar conosco os
primeiros casos. A técnica original, realizada desde 2011, abre uma grande
parte do útero (8cm), enquanto a desenvolvida pelo professor Peralta reduz essa
incisão para 2,5 a 3,0 cm, diminuindo os índices de complicações maternas e
mantendo os resultados fetais da técnica original. Essa parceria é fundamental
para que possamos dar acesso ao tratamento ao maior número possível de crianças
– constatou o Dr. Jair Braga.
O neurocirurgião pediátrico do IEC
Gabriel Mufarrej estudou o procedimento por 10 anos e realiza a cirurgia com
ajuda de um microscópio.
- Antigamente retirava-se o feto do
útero para realizar o reparo na espinha, o que resultava num alto número de
mortalidade. Deste modo, com o feto operado dentro do útero, interferimos o
mínimo possível no seu ambiente, tendo um maior número de cirurgias bem sucedidas,
afirmou o médico.
Mielomeningocele – É uma má
formação congênita no fechamento da medula espinhal. Ela acontece em um em cada
mil fetos, o que é considerada uma alta incidência. Está associada a perda dos
movimentos das pernas e ao desenvolvimento de hidrocefalia. Segundo a Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a cada ano
cerca de três mil bebês são diagnosticados com a mielomeningocele
fetal.
A cirurgia – É realizada
ainda durante a gestação entre 19 e 26 semanas, tendo em vista um melhor
prognóstico motor da criança, pois a lesão da coluna é corrigida precocemente,
evitando seu agravo no ambiente intrauterino. Isso leva a uma melhor
chance de que essas crianças andem e menor risco de desenvolverem
hidrocefalia. A hidrocefalia leva à necessidade de colocação de um dreno
no cérebro após o nascimento, podendo prejudicar muito o desenvolvimento
neuropsicomotor.
O projeto – A SES e a
maternidade escola da UFRJ assinaram um termo de cooperação científica sem
custos adicionais para a realização das cirurgias intrauterinas. A
maternidade fica responsável por fazer a captação das mães durante o pré-natal.
Elas serão reguladas pelo Sistema Estadual de Regulação e operadas no Instituto
Estadual do Cérebro. O nascimento ocorrerá na Maternidade Escola da UFRJ e as
crianças serão acompanhadas pelos pediatras neurologistas de ambas as
instituições.
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