Intervenção se mantém com
doações de empresários, além de treinamento e equipamentos cedidos pelas Forças
Armadas
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Interventor general Walter
Souza Braga Netto, no centro, em meio a outros
Foto: Silvia Izquierdo/AP
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O Gabinete da de
Intervenção Federal (GIF) ainda não utilizou o R$ 1,2 bilhão destinado pelo
governo federal para a segurança pública no Rio de Janeiro, anunciado em março.
A burocracia obrigou o gabinete a criar uma secretaria administrativa na estrutura
da intervenção para gerenciar a verba.
Em 100 dias, o interventor, o general Walter Braga Netto contou com
doações de armas e munições por empresários e com a estrutura das Forças
Armadas para treinar policiais e recuperar viaturas da Polícia Militar.
Ao mesmo tempo em que atua sem dinheiro, o GIF se depara com o aumento
da violência: 11 índices de criminalidade cresceram neste trimestre –
fevereiro, março e abril – em comparação com o mesmo período de 2017, em 15
crimes que foram analisados pelo G1. Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP)
do próprio governo estadual e que direciona a política de segurança (veja abaixo).
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Comparação
dos trimestes mostra aumento da criminalidade no Rio
Foto:
Infográfico G1
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O crescimento
destes índices analisados explicam, ao contrário do que declarou
o presidente Michel Temer, um pouco da sensação de insegurança das
pessoas, atualmente, no RJ. Entre os dados que apresentaram aumento há os
roubos de veículos, de telefones celulares, no interior de ônibus e de cargas.
O ISP ainda registrou crescimento nos casos de sequestro relâmpago, que
passaram de 16 para 25 casos no trimestre deste ano em comparação a 2017. Crime
semelhante ao que aconteceu com um casal de professores da UFRJ, na sexta-feira
(18) e que foi registrado como roubo. Todos os crimes impactam na sensação de
segurança das pessoas.O número de pessoas desaparecidas também cresceu, como também, de homicídios
dolosos e de pessoas mortas em intervenção policial, os chamados auto de
resistência.
No período se manteve estável os roubos de com condução de vítimas para
saques em instituição financeira, o encontro de cadáver e de policiais mortos.
A queda aparece apenas em casos de latrocínio.
O coronel Itamar
faz a análise comparando dados mês a mês e não no acumulado no trimestre. Ele
ainda lembra que em março de 2017, a Polícia Civil estava em greve e, segundo
ele, a instituição deixou de registrar algumas ocorrências, o que representaria
uma subnotificação.
Estrutura para usar o dinheiro
Anunciada
em 16 de fevereiro pelo presidente Michel Temer, a intervenção na
segurança pública do Rio de Janeiro foi aprovada pela
Câmara de Deputados e pelo Senado Federal.
Enquanto o interventor e uma equipe das Forças Armadas realizavam um
diagnóstico sobre a situação no estado e traçavam planos e objetivos até
dezembro, o governo federal destina R$ 1,2 bilhão para a área em 28 de março.
Apenas na terça-feira passada
(22), a Câmara aprovou a criação de 67 cargos para a
intervenção. Os gastos com o pagamento dos salários até junho
de 2019 será de R$ 10,8 milhões. Com a criação dos cargos se oficializou a
criação da Secretaria de Administração que vai planejar e cuidar de todos os
trâmites para uso do dinheiro.
A pasta, dentro da
intervenção, é formada por militares das três Forças (Exército, Marinha e
Aeronáutica), além de civis. Dos 67 postos, além do cargo do interventor, o
general Braga Netto, 38 são cargos em comissão DAS-6 (Direção e Assessoramento
Superiores). Militares da ativa, lotados no gabinete, ainda terão gratificação
no valor de 2% do salário por dia.
Como os processos de
licitação demoram, em média, pouco mais de 90 dias, o general Laélio Soares de
Andrade, responsável pela Secretaria de Administração optou por utilizar a
verba em processos que já estavam em andamento nas instituições como a compra
de coletes balísticos, por exemplo.
A ideia é que as compras
sejam feitas em lotes para as polícias Civil e Militar, além da administração
penitenciária desde que para equipamentos que sirvam a todas elas.
O GIF pretende gastar parte
do R$ 1,2 bi em:
·
Logística - compra de coletes, por exemplo
·
Inteligência - compra de equipamentos para a Polícia Civil
·
Tecnologia - scaners e instalação de circuito interno de
TV nos presídios
Projeto-piloto na Zona Oeste
Primeiro, a Vila Kennedy, em Bangu, na Zona Oeste do
Rio. Agora, o Gabinete de Intervenção inicia uma série de ações
na Praça Seca e na Cidade de Deus, em Jacarepaguá. As duas comunidades recebem
desde o dia 19 de maio uma série de ações na tentativa de reduzir a
criminalidade.
Uma delas aconteceu no sábado
(19), quando militares fizeram uma operação na Praça Seca. Na ocasião, o traficante Sérgio Luiz da Silva, conhecido
como Da Rússia, morreu. No dia seguinte (20), Hélio Albino da Silva, o Lica, ex-chefe da milícia que atua na região de
Jacarepaguá, foi preso por agentes da Polícia Federal e da
Polícia Civil em uma ação da Operação União Rio.
"Não é uma ação contra a
milícia ou contra o tráfico. Não tem alvo. A ação é contra grupos criminosos
que atuem em determinada região e tirem a tranquilidade da população",
afirmou o coronel Roberto Itamar.
O modelo é semelhante ao
adotado na Vila Kennedy em que os militares fizeram uma série de operações na
comunidade enquanto treinavam policiais e reformulavam os equipamentos. Das 265
viaturas recebidas em abril, boa parte foi destinada ao Batalhão de Bangu.
Os 250 policiais que
integravam a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Vila Kennedy passaram por
reciclagem antes de serem integrados ao batalhão. Uma das fases foi o
treinamento no stand de tiro do Exército.
Cada PM fez 300 disparos em
30 dias. Nos últimos 5 anos, houve policial que deixou a academia sem dar um
tiro sequer.
O Gabinete de Intervenção
considera esses itens parte do projeto que marca uma mudança de rumo:
· *Recuperar a capacidade dos
órgãos de segurança
· *Baixar os índices de
criminalidade
Mas ação na Vila Kennedy
apresentou problemas de outras ações semelhantes. O bairro teve uma queda nos
índices de criminalidade, mas os bairros vizinhos como Campo Grande e Sulacap
apresentaram um aumento no número de roubos.
"É o mesmo fenômeno que
ocorreu na instalação das UPPs. “Migração” da criminalidade. Não atacamos o
problema, apenas empurramos para o vizinho", avalia a juíza Yedda
Christina Ching San Assunção.
De acordo com ela, a sensação de
insegurança cresceu pela ação dos assaltantes: "Não temos furto, não temos
batedores de carteira. Agora é roubo de loja com fuzil. Isso causa pânico. O
medo não é da perda do patrimônio é o risco de morte", explicou a magistrada.
G1
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