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Nascido em 12 de dezembro de 1940
no Rocha, bairro da Zona Norte carioca, Arnaldo Jabor era filho de um oficial
da Aeronáutica e uma dona de casa.
Em mais de 50 anos de carreira, Jabor percorreu entre o
cinema, o jornal, a TV e o rádio, ora tratando de política, ora contando uma
história da juventude — ou unindo os dois como um malabarista. Em seus filmes e
textos, procurava observar a sociedade brasileira, compreender seus paradoxos e
criticar suas hipocrisias.
Diretor do Cinema Novo, o
cineasta inaugurou a linha do “cinema verdade” de Jean Rouch, aproximando a
câmera das pessoas nas ruas e dando destaque às contradições da classe média,
da qual o próprio fazia parte.
Seu primeiro longa-metragem “A
opinião pública” (1967) foi um marco no documentário brasileiro moderno.
Através de depoimentos de personagens como estudantes, donas de casa e
aposentados, o filme traça um painel da classe média carioca após o golpe
militar de 1964, evidenciando seus comportamentos, suas inclinações e, sobre
tudo, sua distância frente a realidade brasileira. A obra faz, afinal, uma
referência ao próprio diretor, que sempre se colocou diante da opinião pública
como ponto crítico, de questionamento.
— Há uma semelhança do tempo em
que fiz “A opinião pública” para hoje. Naquela época, o Brasil também estava
dividido em dois e ninguém falava da classe média. Fiz o filme para mostrar a
perplexidade de um grupo que não tinha a menor ideia do caminho que deveria
seguir. É uma sensação que continua hoje.— declarou o jornalista em entrevista
ao Globo em 2014, ao lançar a coletânea “O malabarista — Os melhores textos de
Arnaldo Jabor”.
Nos anos 1970, Jabor tornou-se um
dos mais bem-sucedidos diretores do país com filmes como “Toda nudez será
castigada” (1973), que conquistou o Urso de Prata no Festival de Berlim e foi o
primeiro vencedor do Festival de Cinema de Gramado. Adaptado da obra teatral
homônima de seu amigo Nelson Rodrigues, o drama acompanha um conturbado
triângulo amoroso (às escondidas) entre um viúvo, sua amante e seu próprio
filho.
Baseado novamente nos textos do cronista, Jabor lança
"O casamento" (1975), um espelho dos anseios da classe média, repleto
de sátiras e ironias, que conquistou o Kikito de ouro de melhor atriz
coadjuvante a Camila Amado. Na mesma linha, mais um estouro: "Tudo
bem" (1978), com nomes como Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro e Zezé
Motta. A obra, aliás, está na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de
todos os tempos, editada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema
(Abraccine).
As crises amorosas e existenciais
voltaram a ser objeto do roteirista e diretor em "Eu te amo" (1980),
com Paulo César Pereio, Sônia Braga, Tarcísio Meira, Vera Fischer e Regina Casé
no elenco. Intimista e sexual, a película culmina num grande delírio musical em
celebração ao amor e à vida. Foi indicada ao prêmio de melhor filme no Festival
de Gramado em 1981 e saiu vencedora em três categorias: melhor atriz (Sonia
Braga), melhor som e melhor cenografia.
Sucesso dentro e fora do país,
Jabor concorreu duas vezes à Palma de Ouro do Festival de Cannes: com
"Pindorama" (1970) e "Eu sei que vou te amar" (1986). Este
último rendeu ainda a Fernanda Torres, aos 20 anos, o prêmio de melhor atriz —
foi a primeira brasileira a conquistar a honraria no evento francês.
Consagrada como uma de suas
produções de maior destaque, a trama compõe uma espécie de sessão de
psicanálise ao acompanhar um casal que decide, meses após sua separação, se
encontrar para discutir as frustrações do casamento em um "jogo da
verdade". O longa lotou as salas de cinema e foi assistido por mais de 4,5
milhões de espectadores, mas, com o ingresso a U$ 0,70, acabou dando prejuízo.
Nesta época, fazer cinema lhe
dava uma mistura de angústia, frustração e prazer, e quase nada de dinheiro,
lembrou o roteirista e diretor em conversa com o GLOBO, em 2009. Na mesma
ocasião, Jabor fez uma ressalva: — Felicidade para mim é criar, é isso que me
deixa feliz. Sou um criador.
Fato é que, em meio à crise do
cinema brasileiro durante o governo Fernando Collor no início dos anos 1990,
precisou buscar um novo caminho para pagar as contas e continuar sua crítica à
sociedade, à política e à cultura. Com sete longas no currículo, passou a
trabalhar como jornalista de opinião em jornais, TV e rádio do Grupo Globo e
lançou uma série de livros.
O jejum de 23 anos sem filmar foi
quebrado pelo longa "A suprema felicidade" (2010), um retrato do Rio
dos anos 50 com base em algumas de suas crônicas publicadas, exalando uma
mistura de memória afetiva, sonhos e descobertas políticas — "uma espécie
de 'Amarcord' brasileiro", segundo o próprio diretor e roteirista.
— Não é autobiográfico, mas, ao
mesmo tempo, está cheio de situações parecidas com fatos que eu vivi. Se é
biográfico, é uma biografia inconsciente, de autoanálise — contou em entrevista
ao Globo no ano do lançamento.
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