domingo, 15 de julho de 2018

Transplantes no estado do Rio aumentaram 43% entre 2016 e 2017

Marcelo recebeu um novo coração no ano passado
Foto: Emily Almeida


Segunda-feira, 6 de março de 2017, meia-noite. Uma ligação nesse horário não é muito comum e pode, muitas vezes, representar uma notícia ruim. No entanto, para o aposentado Marcelo Silva dos Santos, de 48 anos, ela significou um renascimento. Naquele dia, o morador de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, soube que faria o transplante de coração tão aguardado durante quatro anos. São histórias como essa que motivam e dão esperança às cerca de duas mil pessoas que aguardam por uma cirurgia desse tipo no Programa Estadual de Transplantes (PET) do Rio de Janeiro.
— Fiquei muito abalado com a doença. Chegou um dia em que tive dificuldades até para escovar os dentes. Mas sempre confiei em Deus. Um dia, minha hora ia chegar. Quando me ligaram, eu nem acreditei. A doação de órgãos é um ato gratificante e bonito — diz ele, que sofreu durante quatro anos de miocardiopatia dilatada, doença progressiva e sem cura em que o coração fica grande e se torna incapaz de bombear o sangue para o corpo.
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Os números registrados no ano passado explicam a confiança de Marcelo: foram 1.607 transplantes, sendo 965 de córnea, realizados no estado, índice cerca de 43% maior do que o registrado em 2016. E mais: a quantidade de doadores efetivos em 2017 também superou o do ano anterior — foram 247 contra 226.


Além disso, 2018 também traz números animadores. Janeiro, por exemplo, teve 129 transplantes de órgãos e córneas. É a melhor marca comparada ao mesmo mês em anos anteriores desde o início do programa, em 2010. Já os procedimentos de coração puderam salvar 15 vidas. Em menos de sete meses, o número já é maior do que os registros anuais desde 2010. Em maio deste ano, cinco transplantes foram realizados no Rio, marca inédita para apenas um mês.
Vida após a perda
O coordenador do programa, Gabriel Teixeira, explica que os pacientes com indicação para transplante devem procurar um dos 48 centros credenciados pelo estado, onde são avaliados e inseridos no sistema. A partir de então, a pessoa se torna um candidato a receber um órgão. Gabriel comenta que são poucas as contraindicações para ser um doador, como, por exemplo, ser portador do vírus HIV ou ter tuberculose em atividade:
Gabriel Teixeira coordena o programa de transplantes
 Foto: Maurício Bazilio / SES / Divulgação


— Alguns números, como o de transplantes de coração, podem parecer baixos, mas para se ter uma ideia, ao longo de 2017, foram feitos 12 procedimentos cardíacos. Em 2016, essa diferença é ainda maior, pois conseguimos apenas nove. Ou seja, em apenas um mês, realizamos um terço do que foi feito em todo o ano de 2017.
Entre todas as decisões necessárias após a morte do filho, a escolha pela doação de órgãos foi a mais fácil para a advogada Valéria Albuquerque. João Rodrigo morreu aos 16 anos, após uma parada cardíaca, em dezembro de 2015. Ele teve a síndrome de Guillain-Barré, condição rara e grave que atinge o sistema nervoso. A dor da perda do único filho não foi capaz de fazer Valéria abrir mão do ato de solidariedade.
Valéria autorizou a doação de órgãos do único filho, morto há dois anos
 aos 16 anos de idade 
Foto: Emily Almeida

— Eu e meu marido não cogitamos outra possibilidade que não fosse a doação. Não precisamos nem pensar. Eu tenho certeza que essa também seria a decisão do João Rodrigo, caso pudesse opinar. É uma questão de solidariedade e alívio nos corações, em ver a vida do seu filho continuando em outra pessoa.
Negativa familiar é de 30%
A Secretaria estadual de Saúde aponta que um dos principais desafios é diminuir o índice de negativa familiar, que no estado é de cerca de 30%. Apenas no ano passado, mais de 230 órgãos deixaram de ser doados. Os primeiros contatos são feitos pelas Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante.
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O sucesso do programa de transplantes depende fundamentalmente da solidariedade das famílias, num momento de dor, além do trabalho das equipes do programa e da estrutura dos hospitais. Na semana passada, médicos do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), um dos principais centros de transplante de rim do estado, suspendeu os procedimentos em função da falta de um medicamento para evitar a rejeição do órgão. A direção da unidade, no entanto, nega a denúncia e diz que conseguiu frascos do remédio emprestados com outros hospitais.
Autorização da família permite procedimento
Tecidos como córnea, ossos, pele e válvulas cardíacas podem ser doados nos casos de mortes encefálica e resultantes de parada cardíaca, diferentemente de órgãos como coração, fígado e rins, entre outros, que só podem ser doadores os casos de morte cerebral. Após a captação, em até seis horas após o falecimento, eles podem ser devidamente armazenados por até 14 dias, facilitando as cirurgias.
A secretaria tem outra conquista para comemorar. Após dez anos, um pulmão foi novamente captado no Rio, no Hospital estadual Adão Pereira Nunes, na Baixada Fluminense, em dezembro de 2017, e enviado a São Paulo.
O programa disponibiliza um site em que as pessoas que querem se declarar doadoras podem se cadastrar, compartilhar a iniciativa e imprimir o Cartão do Doador. Apesar de não ser um documento legal, uma vez que só familiares diretos podem autorizar a doação, o cadastro visa a estimular as famílias a discutirem o assunto. Para mais informações, a secretaria disponibiliza o Disque-Transplante no número 155.

Extra

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