O primeiro dia do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) manteve o perfil de abordar questões
sobre os direitos humanos. Nas provas de Linguagens e Ciências Humanas, as
questões trouxeram assuntos como os 70 anos da Declaração Universal dos
Direitos Humanos e a ativista americana Rosa Parks, que ficou conhecida
mundialmente ao desafiar a lei de segregação entre negros e brancos.
Cultura africana,
questões de gênero, escravidão e noção de democracia foram tópicos que voltaram
a aparecer nos enunciados da prova, segundo Cláudio Hansen, professor do
Descomplica. Ele comenta: "O Enem voltou a ter um caráter crítico e
contemporâneo, o que é muito bom." Com relação à parte de atualidades, o
professor diz que a relevância das notícias sobrevive em média de quatro a
cinco anos. "Não cai somente o que está muito atual. Tópicos como a
questão dos refugiados e a seca de 2014 foram cobrados."
"A prova estava
mais crítica, menos conteudista", avalia Cláudio Caus, professor de Língua
Portuguesa do Cursinho da Poli. Em sua avaliação, a parte de português não teve
mudanças significativas e contou com uma ênfase maior nas variedades
linguísticas do que nos últimos anos.
O professor destaca
que muitas questões contemplaram as diversidades. "Em uma questão, o
eu-lírico do texto, negro, assumia o discurso de opressor. Em outra, um anúncio
publicitário incentivava a denúncia de assédio sexual. São temas muito discutidos
recentemente, inclusive nos debates políticos", ele comenta.
Os estudantes
elogiaram as questões que abordavam direitos humanos e contestavam
preconceitos. "Uma questão que me chamou a atenção se referia a um tópico
sobre saúde da mulher e fazia relação com o machismo. Essa questão quebra os
paradigmas da família conservadora", declarou Mateus Lopes, de 16 anos.
"As questões
são bem atuais, com assuntos que estão sempre sendo discutidos. Se não me
engano, foram cinco questões sobre feminismo", conta Lucas Ribeiro Paiva,
de 19 anos, que considerou a prova, no geral, mediana, com maior dificuldade
nas questões de História. Outros estudantes ouvidos pela reportagem concordaram
que as perguntas dessa disciplina foram as que mais deram trabalho.
Literatura
Segundo Caus, em
comparação ao ano passado, menos autores canônicos foram cobrados e abordou-se
uma literatura contemporânea. "Guimarães Rosa foi citado em duas questões,
uma delas com um quadrinho sobre Grande Sertão Veredas", afirma. A prova também
contou com perguntas sobre funções de linguagem e tecnologia de informações.
Hansen lembra que a
prova trouxe questões de geografia física, clima, hidrografia e noções de
geologia, confirmando uma tendência observada em 2017 de abordar esses assuntos
que tinham menos peso em anos anteriores.
Ele diz ainda que
os textos da prova estavam mais densos, exigindo uma maior capacidade de
leitura dos candidatos. "Pelo menos em cinco questões, o estudante
precisava ter leitura de mapa, gráfico ou esquema. Além dos textos estarem mais
densos, foram apresentadas outras formas de escrita", comenta o professor
de geografia.
A candidata Micaela
Ferraz, de 21 anos, concorda que os textos estavam mais trabalhosos.
"Achei a prova fácil, porém cansativa porque tem muito texto, muita
interpretação. História achei complicada. Me dei bem em Inglês", declarou.
Para Hansen, a
prova ganhou um nível de dificuldade e deve ser avaliada entre mediana e
difícil pelo Descomplica. "A interpretação continua ajudando o aluno, mas
as questões que podem ser consideradas como muito fáceis não apareceram",
comenta. A ausência de assuntos clássicos, como indústria, energia, vegetação e
biomas do Brasil também chamou a atenção do professor.
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Redação
Os candidatos se
dividiram ao opinar sobre o tema de redação. Para Andrew Lucas, de 19 anos, o
tema "manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na
internet" foi fácil de desenvolver. "Tivemos casos na família de
crianças que ficaram afetadas por conteúdos da internet. Deu para falar também sobre
as fake news nas eleições", disse.
Ele fez a prova
junto com a mãe, Renata Moraes, 46 anos, que pretende cursar Pedagogia. "É
o tema da atualidade, pois as fake news entraram muito forte nesta eleição. Eu
e o Lucas nos preparamos, pois tínhamos certeza de que alguma coisa disso
apareceria no Enem."
Para o candidato
Fábio Longo, 29 anos, que fez a prova em cadeira de rodas, quem focou apenas as
fake news pode não ter entendido a proposta do tema. "A questão é as
pessoas serem manipuladas pela internet. Deu para fazer legal, mas não era o
tema que eu esperava." Fábio quer retomar os estudos após sete anos e
pretende fazer Engenharia de Computação. "Agora, é esperar pela prova de
Exatas."
O candidato Eduardo
Souza, de 17 anos, achou o tema difícil. "Quando você lê os textos
motivadores, parece que o tema é uma pegadinha. Fiz o que pude, mas o resultado
da redação não me pareceu muito bom. Nas questões de português, fui
melhor."
Tiago Sutil, 18
anos, candidato a uma vaga em Engenharia da Computação, disse que o tema o
surpreendeu por ser óbvio demais. "Esperava que fosse algo mais voltado
para a área de educação." Solange Oliveira, 38 anos, disse que o tema é
atual, "mas foi difícil desenvolver."
Já Leandro Rocha,
de 26 anos, que realiza o Enem pela terceira vez, achou o tema deste ano mais
fácil do que nas edições anteriores. "Os textos que estavam na prova são
ótimos para referência, uma mão na roda para se inspirar", declarou.
Estadão Conteúdo
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