Pneumologista explica como o vírus ataca as células, como se reproduz e como funciona a reação do organismo; 80% dos casos são leves
Paciente é levado para a emergência de hospital em
Nova York
Justin Lane/EFE/EPA
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Ainda não há um medicamento específico
para o tratamento da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus - embora
a hidroxicloroquina esteja sendo estudada para essa finalidade.
Por isso, a pessoa doente depende unicamente da ação do sistema imunológico
para se recuperar.
A
transmissão do vírus acontece de pessoa para pessoa, pelo contato com gotículas
contaminadas presentes na saliva, na tosse, no espirro e no catarro.
"Alguém
que está com a doença espirra ou tosse. Então, saem gotículas contaminadas que
se fixam em alguma superfície. Outra pessoa põe a mão ali e, em seguida, coloca
na boca, no nariz ou nos olhos e se contamina", explica o pneumologista
Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O
ataque às células
Após o
contágio, o coronavírus entra nas células das vias respiratórias. Todo vírus é
envolvido por uma capa de proteína e gordura. A capa do coronavírus tem o formato
de uma coroa feita de espinhos - daí vem o nome "corona".
"Ele usa
essa proteína da capa para se acoplar na receptor da célula, abrir a célula e
entrar", esclarece o especialista.
Após a
entrada, o RNA - material genético do coronavírus - vai até o núcleo da célula.
"Ele usa o núcleo para fabricar outros vírus, é o que a gente chama de
'replicação'. A partir disso, ele sai desta célula e ataca outras",
descreve.
A
reação do organismo
A invasão faz
com que o sistema de alerta do organismo seja ativado. Esse mecanismo
identifica o agente estranho, no caso o coronavírus, e aciona os linfócitos T,
conhecidos como glóbulos brancos - células de defesa do organismo.
Essas células
verificam em suas 'memórias' se já possuem anticorpos para o invasor.
"Nesse caso, elas não têm, porque esse é um vírus novo, então chamam os linfócitos
B para fazer a produção", explica Fiss.
De acordo com
ele, 80% das pessoas conseguem produzir anticorpos rapidamente e se recuperam.
Entretanto, a outra parcela demora para realizar a produção e começa a ter uma
reação inflamatória à ação do coronavírus. Essa situação desencadeia um efeito
cascata.
"Um
monte de substâncias são produzidas. Elas causam uma inflamação que ocorre nos
brônquios, nos pulmões e nos alvéolos pulmonares", afirma.
Fiss explica
que tais substâncias ocupam os espaços entre os alvéolos e o sangue. Por isso,
o oxigênio não consegue passar e as pessoas sentem falta de ar.
A morte, como
já se sabe, é a consequência mais grave de todo esse processo. "Acontece
quando a infecção pelo vírus se dissemina para outros órgãos e causa a falência
múltipla".
Uma
possível sequela
Segundo o
especialista, a sequela mais importante que pode acometer os sobreviventes é a
fibrose pulmonar. "Se a reação inflamatória dura por muito tempo causa
danos no pulmão. Depois esse dano cicatriza e dá a fibrose", descreve.
"Mas ela
acontece numa porcentagem muito pequena de pacientes internados. De todos os
casos que eu vi até agora, nenhum evoluiu com fibrose", ressalta.
R7
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