Análise leva em conta que valores do álcool tradicionalmente avançam no período de menor produção de cana no centro-sul do Brasil
Reajuste
no preço do etanol deve ser menor neste ano
Paulo
Whitaker/Reuters
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Os preços do etanol
hidratado no Brasil devem subir menos durante a entressafra de cana-de-açúcar
na região centro-sul, ante as previsões iniciais, dada a recente queda de preço
gasolina da Petrobras, o concorrente direto do biocombustível.
Os valores do álcool
tradicionalmente avançam entre o final de um ano e o início do outro devido à
menor produção na principal região produtora de cana no Brasil.
O tombo da gasolina nas
refinarias da Petrobras neste mês, no entanto, aponta para um ganho menor pelo
etanol, dado o risco de perda de competitividade.
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O cenário pode impactar os
lucros de usinas que se prepararam para entrar cheias de estoques na
entressafra após o valor do petróleo saltar no mercado internacional, renovando
máximas em quatro anos desde agosto.
Com a invertida nas cotações
do petróleo no mês de outubro, a Petrobras anunciou uma série de cortes no preço médio da gasolina nas
refinarias, o que resultou na redução de 3,8% no preço
médio do combustível a partir desta quarta-feira (24), para abaixo de R$ 2 por
litro, o menor patamar desde agosto. Só em outubro a estatal reduziu a cotação
do combustível em cerca de 10%.
"É evidente que essa
redução [da gasolina] diminuiu o 'gap' até onde poderíamos chegar com o
etanol... Com certeza se reduziu o potencial de apreciação do etanol na
entressafra", disse o diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo
Rodrigues.
Para Rodrigues, a tendência
é o biocombustível ainda se manter atrativo nos próximos meses, com seu preço
abaixo da paridade de 70% ante o da gasolina. Mas "se meu concorrente
baixa a régua, vou ter de elevar menos", ponderou. Por ora, ele calcula
que, somando-se impostos e demais tributos, o etanol nas usinas paulistas pode
atingir algo entre R$ 2,35 e R$ 2,45 por litro na entressafra, de R$ 2,18
atualmente.
O analista João Paulo
Botelho, da INTL FCStone, também avaliou que, "dada a situação atual, isso
impacta o teto que o etanol pode chegar" na entressafra. "A queda da
gasolina pode diminuir a competitividade do etanol, podemos ver uma redução de
consumo, embora nos principais produtores, como São Paulo e Minas Gerais, ainda
deva se manter atrativo por um tempo", afirma.
Usinas do centro-sul
impulsionaram a fabricação de álcool na atual temporada 2018/2019, na esteira
de preços elevados da gasolina e do enfraquecimento das referências
internacionais do açúcar na Bolsa de Nova York. Tanto que há algumas semanas se
falava em uma alta maior para o etanol na entressafra, sem se perder a
competitividade.
Repasse
O analista Walter De Vitto,
da Tendências, prevê que os motoristas devem sentir em cerca de uma semana os
recentes cortes nos preços da gasolina pela Petrobras dentro dos postos de
combustíveis.
"Até zerar os estoques
do distribuidor e dos postos, em tese não faz sentido baixar os preços. Tem
naturalmente um descasamento. A gente imagina que no máximo em uma semana já
será possível fazer esse repasse", explica Vitto.
Para o analista, os preços
da Petrobras estão "razoavelmente alinhados" com as referências
internacionais do petróleo e o câmbio, que cederam nas últimas semanas.
"Esses foram os principais drivers para os reajustes", afirmou.
Um eventual recuo nos
valores da gasolina nas bombas se daria logo após o produto atingir recordes
país afora. Na semana passada, a média de preço do combustível fóssil no Brasil foi de R$ 4,725
por litro, um recorde nominal, conforme monitoramento da
reguladora ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
O repasse dos reajustes da
Petrobras aos consumidores depende de distribuidores, revendedores, impostos,
além da mistura obrigatória de etanol anidro na composição da gasolina vendida
nos postos.
O etanol hidratado, por sua
vez, teve média nacional de R$ 2,943 por litro na semana passada, alta de 1% em
relação à semana imediatamente anterior, segundos os dados da ANP.
R7
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