quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Teste final aponta que vacina reduz 60,8% dos casos de dengue

Laboratório divulgou resultado do último e maior estudo sobre vacina contra a doença. Teste foi feito em cinco países da América Latina, entre eles o Brasil

O último teste clínico envolvendo uma vacina contra a dengue demonstrou que ela é capaz de proteger 60,8% dos casos da doença. A vacina, chamada CYD-TDV e produzida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur, foi testada em mais de 20 000 crianças e adolescentes de 9 a 16 anos de cinco países da América Latina, entre eles o Brasil. Os resultados foram anunciados nesta quarta-feira por representantes da farmacêutica.
Essa mesma vacina já havia passado por outra pesquisa clínica, realizada com 10 275 crianças de 2 a 14 anos que moravam em regiões da Ásia com epidemia de dengue. Os resultados, que foram divulgados em julho deste ano, apontaram para uma eficácia média de 56%.
Segundo Nicholas Jackson, chefe de pesquisa sobre a dengue da Sanofi, o estudo da América Latina é mais consistente, já que se baseia no dobro do número de participantes do que os testes feitos na Ásia.
A nova pesquisa — que, além do Brasil, também foi realizada na Colômbia, México, Honduras e Porto Rico —, foi feita entre junho de 2011 e abril de 2013. Cerca de 3 500 brasileiros de Natal, Fortaleza, Campo Grande, Goiânia e Vitória participaram dos testes. O novo estudo ainda indicou que o método pode reduzir em até 80% o risco de hospitalização causada por complicações da dengue. Na pesquisa anterior, essa redução havia sido de 67%. 
A proteção da vacina CYD-TDV variou de acordo com os quatro tipos do vírus da dengue. Ela evitou mais de 70% dos casos de dengue tipo 3 e 4, e menos de 50% das infecções por dengue tipo 1 e 2.
Contexto — Atualmente, não há nenhuma vacina disponível para proteger contra a dengue, mas existem algumas sendo desenvolvidas. A CYD-TDV é a primeira cujos testes clínicos chegaram à fase final. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 e 100 milhões de pessoas sejam contaminadas todos os anos no mundo.
A CYD-TDV é feita com uma versão do vírus da dengue enfraquecida, que não desencadeia a doença, mas consegue provocar uma reação do sistema imunológico do paciente. Isso faz com que o organismo produza anticorpos contra a dengue e esteja mais protegido caso seja contaminado.
Ressalvas — Quando a pesquisa sobre a vacina feita na Ásia foi divulgada na íntegra, a comunidade científica fez algumas ressalvas sobre o método, inclusive sobre a taxa de proteção. Para os especialistas, uma vacina ideal é aquela que evita pelo menos 90% dos casos de uma doença. Além disso, alguns cientistas se disseram preocupados com a possibilidade de a vacina aumentar o risco de dengue hemorrágica caso uma pessoa imunizada fosse infectada. Outro ponto questionado é que o estudo não demonstrou os efeitos da vacina a longo prazo, já que acompanhou as crianças asiáticas por somente dois anos.
Ainda não se sabe se o estudo feito da América Latina poderá responder a essas questões, já que os detalhes só serão apresentados no início de novembro, durante o encontro anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, nos Estados Unidos.
Investimento — A Sanofi investiu o equivalente a cerca de 4 bilhões de reais no projeto da CYD-TDV. A vacina ainda não está disponível. Em julho, o laboratório disse que, após a divulgação dos resultados desse último teste, entraria com pedido de registro nos órgãos regulatórios dos países para que a vacina passe a ser ofertada. 
Segundo a farmacêutica, os primeiros lotes da CYD-TDV, produzidos em uma fábrica no sudeste da França, estarão prontos no ano que vem. A expectativa da Sanofi é vender as primeiras doses no segundo semestre de 2015.

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