segunda-feira, 6 de agosto de 2018

MP-PR denuncia marido de Tatiane Spitzner por homicídio, cárcere privado e fraude processual

Advogada foi encontrada morta depois de cair do 4º andar de prédio em Guarapuava, no Paraná. Denúncia contra Luís Felipe Manvailer foi feita na tarde desta segunda-feira (6)

MP-PR denuncia marido de Tatiane Spitzner
Foto: Reprodução/Facebook

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou, na tarde desta segunda-feira (6), o biológo Luís Felipe Mainvailer, de 32 anos, pela morte da esposa Tatiane Spitzner pelo crime de homicídio com quatro qualificadoras - meio cruel, dificultar defesa da vítima, motivo torpe e feminicídio.
Mainvailer também foi denunciado por fraude processual por alterar a cena do crime e cárcere privado.
Na denúncia, o MP-PR pediu a manutenção da prisão preventiva dele. "Após a conclusão do presente feito investigatório, angariaram-se mais elementos que demonstram a necessidade da custódia cautelar do acusado, considerando que este denotou um comportamento extremamente agressivo e perigoso (...)", justificaram os promotores.
Tatiane foi encontrada morta depois de cair do 4º andar do prédio onde eles moravam, em Guarapuava, na região central do estado. A perícia feita no local da morte constatou que ela teve uma fratura no pescoço, característica de quem sofreu esganadura.
Para o MP-PR, Luís Felipe, que foi flagrado pelas câmeras de segurança agredindo a mulher minutos antes da queda, é o responsável pela morte dela.

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Os crimes
Cárcere privado: O marido "impediu, mediante violência, que a ofendida se afastasse do denunciado, por pelo menos três vezes, constrangendo-a a deixar a garagem do edifício em sua companhia, a permanecer dentro do elevador e a ingressar no apartamento em que residiam, restringindo a liberdade de locomoção da vítima", segundo os promotores.
Fraude processual: Manvailer agiu dolosamente, "ciente da ilicitude e reprovabilidade de sua conduta, inovou artificiosamente, visando produzir efeito em processo penal ainda não iniciado, o estado de lugar e de coisas, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito, mediante a remoção do corpo da vítima Tatiane Spitzner do local da queda e limpeza de vestígios de sangue, conforme imagens do circuito interno de câmeras", disse o MP.
Homicídio qualificado
·               Meio cruel: praticar o delito mediante asfixia;
·          Dificultar defesa da vítima: em razão da sua superioridade física e das agressões contínuas e progressivas que inibiram a possibilidade de reação;
·                Motivo torpe: desentendimento ocorrido em virtude de mensagens em redes sociais;
·                 Feminicídio: assassinato contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Quanto ao crime de furto do veículo de Tatiane para a fuga, o MP-PR promoveu o arquivamento do caso, considerando que os dois eram casados em regime de comunhão parcial de bens.
Luis Felipe Mainvailer nega as acusações e diz que a esposa se jogou da sacada. Ele está preso e foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio qualificado, por motivo torpe e meio cruel que não deu chance de defesa à vítima.
O delegado que cuida do caso também indiciou o marido de Tatiane pela suspeita de ter mudado a cena do crime ao apagar manchas de sangue, por roubar o carro da advogada para a fuga e por feminicídio.
A defesa de Luis Felipe Manvailer diz que ainda aguarda o resultado de exames periciais e a realização de reprodução simulada dos fatos com a participação do acusado.
“Nesse momento é importante reafirmar que qualquer posicionamento sobre o caso, seja dos Delegados, Promotores, Advogados de Acusação ou de outro profissional que tenha participado do todo ou de parte deste apuratório (que sequer se encontra efetivamente concluído, já que pendentes importantes diligências) estará tratando de hipóteses especulativas, baseadas em fragmentos, que destoam de comprovação técnica científica”.
Entenda o caso
A queda de Tatiane foi na madrugada do dia 22 de julho, no Centro. Conforme a Polícia Civil, depois da queda, Luis Felipe recolheu o corpo de Tatiane e o levou de volta para o apartamento.
Uma testemunha ouvida pela Polícia Civil de Guarapuava relatou que viu o marido recolhendo o corpo e que ouviu gritos: “Meu amor, acorda”.
O marido foi preso após sofrer um acidente de carro na BR-277, em São Miguel do Iguaçu, a 340 quilômetros de Guarapuava. Ele disse que se acidentou porque a imagem da esposa pulando a sacada não saía da cabeça dele.


Audiência de custódia de Luis Felipe Manvailer  foi realizada na 
segunda-feira (23), em São Miguel do Iguaçu
Foto: Reprodução


O casal estava junto havia cinco anos e era "feliz", de acordo com a defesa do marido. O Ministério Público (MP-PR), porém, diz que Tatiane vivia um relacionamento abusivo. Familiares e amigos relataram que ela queria pedir o divórcio.
Uma amiga de Tatiane, Rosenilda Bielack, que conviveu com o casal na Alemanha, contou que a advogada era maltratada constantemente pelo marido, que é faixa roxa no jiu-jítsu. “Tudo era motivo para ele maltratar a Tati, falar coisas pesadas, pejorativas sempre”, afirmou.
Conversas por WhatsApp de Tatiane com Rosenilda mostram como estava a relação dela com o marido. Nas mensagens, entre março e junho deste ano, a advogada relatou sentir "medo" e disse que o marido tinha "ódio mortal" por ela.


Câmeras registraram agressões do marido a advogada Tatiane
 Spitzner no elevador do prédio Foto: Câmeras de segurança

Os promotores estão analisando, agora, imagens e depoimentos das testemunhas e resultados de exames da Polícia Científica que começaram a sair.
Até o momento, o MP-PR tem em mãos o inquérito da Polícia Civil, que tem 400 páginas com 18 depoimentos, relatório detalhado da imagens das câmeras de segurança e o laudo do local da morte que mostra marcas no pescoço de Tatiane.
Ainda faltam os laudos da necropsia que deve indicar se a advogada foi morta antes de cair ou com a queda do quarto andar; da perícias nos celulares de Tatiane e de Luís Felipe; da perícia feita com ajuda de um boneco no prédio em que o casal morava e de laudos laboratoriais nos ossos da vítima.
Segundo o promotor Pedro Henrique Brazão Papaiz, Manvailer não forneceu a senha para desbloqueio do aparelho, que foi encaminhado ao Instituto de Criminalística.
Para Papaiz, a falta da conclusão dos laudos não atrapalhou o oferecimento da denúncia.
“A dinâmica dos fatos não deixa dúvida de que foi um homicídio. A causa da morte vai ser esclarecida e vai consubstanciar o decorrer do processo. Pra esse momento não é essencial a causa morte”, afirmou o promotor.
A família de Tatiane criou páginas nas redes sociais para incentivar a luta contra o feminicídio.

G1


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