Operação foi deflagrada pela PF na manhã desta
sexta-feira
![]() |
Viaturas
da Polícia Federal no Ministério da Agricultura (Foto: Vitor Matos/G1) |
A Polícia Federal (PF) ainda está nas
ruas cumprindo mandados de prisão e de busca e apreensão relacionados à
Operação Carne Fraca, deflagrada na manhã desta sexta-feira (17). O balanço oficial deve
ser divulgado no fim do dia. Até às 14h20, dos 34 funcionários públicos
federais investigados, pelo menos 20 já tinham sido presos.
Os policiais federais também já prenderam executivos
de grandes grupos frigoríficos, como o gerente de Relações Institucionais e
Governamentais da BRF Brasil, Roney Nogueira dos Santos; o diretor da BRF André
Luis Baldissera; e o funcionário da Seara, empresa da JBS, Flávio Evers Cassou.
Esquema
A operação apura o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.
A operação apura o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.
Segundo a
PF, a Carne Fraca é a maior operação já realizada pela corporação. São 1,1 mil
policiais cumprindo 309 mandados – 27 de prisão preventiva, 11 de prisão
temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão.
As ordens
judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba e estão
sendo cumpridas em São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Em dois
anos de investigação, detectou-se que funcionários de superintêndencias
regionais de Paraná, Minas Gerais e Goiás recebiam propina para facilitar a
produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem
qualquer fiscalização efetiva. Alguns dos funcionários foram detidos na
operação nesta manhã.
Foram
investigadas grandes empresas do setor, como a BRF Brasil, que controla marcas
como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre
outras marcas. Também há envolvimento, segundo a PF, de frigoríficos menores,
como Mastercarnes, Souza Ramos e Peccin, do Paraná, e Larissa, que tem unidades
no Paraná e em São Paulo. O G1 tenta
contato com as empresas citadas.
Em nota, a
JBS afirmou que houve ação da Carne Fraca em três unidades produtivas da
companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. Na unidade da Lapa, na
Região Metropolitana de Curitiba, houve uma medida judicial expedida contra um
médico veterinário, funcionário da JBS, cedido ao Ministério da Agricultura.
"A JBS
e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas
regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e
no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais
normas", diz a nota.
A BRF
informou que, em relação à operação realizada na manhã desta sexta-feira, está
colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos.
"A
companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e
comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não
compactua com práticas ilícitas. A BRF assegura a qualidade e a segurança de
seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no
Brasil ou nos mais de 150 países em que atua", acrescentou.
Veja as empresas que são alvo de busca e apreensão na
operação Carne Fraca:
- Big Frango Indústria e
Com. de Alimentos Ltda.
- BRF - Brasil Foods S.A.
- Dagranja Agroindustrial Ltda./Dagranja S/A Agroindustrial
- E.H. Constantino
- Frango a Gosto
- Frigobeto Frigoríficos e Comércio de Alimentos Ltda.
- Frigomax - Frigorífico e Comércio de Carnes Ltda.
- Frigorífico 3D
-Frigorífico Argus Ltda.
- Frigorífico Larissa Ltda.
- Frigorífico Oregon S.A.
- Frigorífico Rainha da Paz
- Frigorífico Souza Ramos Ltda.
- JBS S/A
- Mastercarnes
- Novilho Nobre Indústria e Comércio de Carnes Ltda.
- Peccin Agroindustrial Ltda./Italli Alimentos
- Primor Beef - JJZ Alimentos S.A.
- Seara Alimentos Ltda.
- Unifrangos Agroindustrial S.A./Companhia Internacional de Logística
- Breyer e Cia Ltda.
- Fábrica de Farinha de Carne Castro Ltda. EPP
- BRF - Brasil Foods S.A.
- Dagranja Agroindustrial Ltda./Dagranja S/A Agroindustrial
- E.H. Constantino
- Frango a Gosto
- Frigobeto Frigoríficos e Comércio de Alimentos Ltda.
- Frigomax - Frigorífico e Comércio de Carnes Ltda.
- Frigorífico 3D
-Frigorífico Argus Ltda.
- Frigorífico Larissa Ltda.
- Frigorífico Oregon S.A.
- Frigorífico Rainha da Paz
- Frigorífico Souza Ramos Ltda.
- JBS S/A
- Mastercarnes
- Novilho Nobre Indústria e Comércio de Carnes Ltda.
- Peccin Agroindustrial Ltda./Italli Alimentos
- Primor Beef - JJZ Alimentos S.A.
- Seara Alimentos Ltda.
- Unifrangos Agroindustrial S.A./Companhia Internacional de Logística
- Breyer e Cia Ltda.
- Fábrica de Farinha de Carne Castro Ltda. EPP
Escutas
Gravações telefônicas apontam que frigoríficos vendiam carne vencida tanto no mercado interno, quanto para exportação.
Gravações telefônicas apontam que frigoríficos vendiam carne vencida tanto no mercado interno, quanto para exportação.
Segundo as
investigações, o esquema no Paraná era comandado pelo ex-superintendente
regional do ministério, Daniel Gonçalves Filho, e pela chefe do Departamento de
Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), Maria do Rocio Nascimento, que
trabalham em Curitiba. A reportagem tenta contato com os citados pela PF.
Na casa do
atual superintendente regional do Ministério da Agricultura, Gil Bueno, a
polícia apreendeu R$ 65 mil nesta manhã. Os três são alvos de prisão
preventiva.
Em sua
decisão, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de
Curitiba, diz que o envolvimento do Ministério da Agricultura é
"estarrecedor". "(O ministério) foi tomado de assalto – em ambos
os sentidos da palavra – por um grupo de indivíduos que traem reiteramente a obrigação
de efetivamente servir à coletividade", afirmou.
De acordo
com informações da PF, a denúncia partiu de um fiscal não aceitou ser
transferido de cidade após denunciar Maria do Rocio ao sindicato por assédio
moral. Ele se queixou de remoções de funcionário que seriam feitas para atender
aos interesses das empresas.
Em Goiás, a PF afirma que o esquema operava
de forma parecida com o paranaense e era liderado pelo chefe do Dipoa, Dinis
Lourenço da Silva.
Ministro
citado
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, apareceu na investigação da Operação Carne Fraca. Em uma conversa grampeada quando ele ainda era deputado federal, Serraglio chama o ex-superintendente regional no Paraná do Ministério da Agricultura, Daniel Gonçalves Filho, de “grande chefe”.
"Sentimos
que não havia crime por parte do tal ministro. Porém, por cautela, foi
necessário fazer esse informe para não sermos questionados", disse
delegado da PF Maurício Moscardi Grillo. Segundo ele, o que for referente ao
ministro será encaminhado à Procuradoria-Geral da República.
Em evento
no Rio Grande do Sul, Serraglio comentou o conteúdo da conversa gravada.
"Esse frigorífico fica a uns 50 km da minha cidade. É um frigorífico que
um dia recebeu, eu tô sabendo pelo o que eu li na imprensa, porque telefonemas
a gente dá e muitos, eu recebi um comunicador dizendo que iam fechar o
frigorifico", afirmou.
"Aí eu
liguei. Pra quem? A expressão que a imprensa está explorando de alguma maneira
porque eu chamei de 'chefe'. Ele é o chefe. Aquele cidadão com quem eu falei é
superintendente do Paraná da agricultura. Eu liguei pra ele para saber 'o que
está acontecendo em relação ao frigorífico?'”
Veja uma transcrição da conversa do ministro com Daniel
Gonçalves:
Osmar Serraglio: grande chefe, tudo bom?
Daniel: tudo bom
Osmar: viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
Daniel: não
Osmar: o cara lá, que... o cara que tá fiscalizando lá... apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico... botô a boca... deixou o Paulo apavorado! Mas pra fechar tem o rito, num tem? Sei lá. Como que funciona um negócio desse?
Daniel: deixa eu ver o que acontecendo... tomar pé da situação lá tá... falo com o senhor.
Segundo a
PF, a investigação apontou que parte da propina recebida pelas
superintendências ia para o PMDB e o PP. O PMDB informou que desconhece o
teor da investigação, e o PP ainda não se manifestou.
Adulterações
em produtos
Gravações telefônicas obtidas pela PF apontam que vários frigoríficos do país vendiam carne com data de validade vencida tanto no mercado interno, quanto para exportação. Entre produtos químicos e carne fora da validade, há casos ainda mais "curiosos", como a inserção de papelão em lotes de frango e carne de cabeça de porco em linguiça.
Ainda
conforme a polícia, os frigoríficos investigados usavam produtos químicos para
"maquiar" carne vencida. As empresas também injetavam água para aumentar o peso
dos produtos e, em alguns casos, foi constatada ainda falta de proteína na
carne.
Os detalhes
foram passados pelo delegado da Polícia Federal Maurício Moscardi Grillo em
coletiva de imprensa nesta sexta-feira
“Eles
usavam ácidos e outros produtos químicos para poder maquiar o aspecto físico do
alimento. Usam determinados produtos cancerígenos em alguns casos para poder
maquiar as características físicas do produto estragado, o cheiro", disse
Moscardi.
No caso da
falta de proteína, o delegado explicou que havia substituição. "Foi
trocada por fécula de mandioca ou proteína da soja, que é muito mais barata,
mais fácil de substituir."
O delegado
afirmou que nem mesmo os fiscais envolvidos, que costumavam ganhar carnes dos
proprietários como benefício, estavam aguentando a má qualidade dos produtos.
"Eles comentavam entre si que não estava mais dando para receber",
disse.
No Paraná,
o esquema tinha ramificações em Londrina, no norte do estado, e em Foz do
Iguaçu, na região oeste. No Rio Grande do Sul, são cumpridos mandados nas
cidades de Gramado e Bento Gonçalves, na serra gaúcha.
Em São
Paulo, são 18 mandados no total, sendo 8 de busca e apreensão, 3 de prisão
preventiva, 1 de prisão temporária e 6 de condução coercitiva, todos na capital.
![]() |
Carne Fraca: mandados sendo cumpridos em Londrina
(Foto:
Dionisio Mathias/RPC)
|
Íntegra da nota da JBS:
Em relação a operação realizada pela Polícia Federal na
manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus
executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação.
A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas
em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da
Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. Na unidade da Lapa (PR)
houve uma medida judicial expedida contra um médico veterinário, funcionário da
Companhia, cedido ao Ministério da Agricultura.
A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento
de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de
alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o
descumprimento de tais normas.
A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de
qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança
alimentar e a qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui
diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que
comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos.
A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de
práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou
comercialização - e se mantém à disposição das autoridades com o melhor
interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.
G1
COMPARTILHE
Curta Nossa Página no Facebook