Para evitar privatização, benefícios também
serão reduzidos
Os Correios passarão este ano por um amplo
processo de reestruturação para voltar ao lucro. As mudanças são consideradas
necessárias no governo para evitar que os serviços sejam concedidos à
iniciativa privada. O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, Gilberto Kassab, afirmou ontem que os Correios poderão ser privatizados, se não ocorrer um processo que rapidamente traga
de volta o equilíbrio financeiro à empresa. No ano passado, o prejuízo da
estatal se aproximou dos R$ 2 bilhões (o balanço oficial ainda não foi
publicado), pouco menor que o registrado em 2015.
Ou rapidamente os Correios cortam gastos além dos que já estão sendo cortados ou vamos caminhar para a privatização — disse Kassab.
Ou rapidamente os Correios cortam gastos além dos que já estão sendo cortados ou vamos caminhar para a privatização — disse Kassab.
Indagado sobre os motivos que levaram
os Correios a essa situação, Kassab afirmou que foi uma combinação de fatores e
destacou que a União não pretende sustentar os prejuízos da estatal.
— Má gestão é corrupção, loteamento,
não ter capacidade de recursos adicionais, não fazer os cortes necessários para
manter o equilíbrio. (…) A empresa está correndo contra o relógio, porque o
governo não tem recursos — afirmou Kassab a jornalistas.
‘OU ENTRA NO AZUL ESTE ANO OU FECHA’
Em entrevista, o presidente da
estatal, Guilherme Campos, disse que os Correios vão passar por uma profunda
transformação nos próximos meses. As reformas vão incluir desde a periodicidade
com que os carteiros passam pelas ruas do país — que vai diminuir —, até
novidades em gestão. A reestruturação deve incluir corte de benefícios e de
pessoal, considerando o quadro de 111 mil servidores da empresa, com o objetivo
de voltar ao lucro.
— Ou entra no azul este ano ou fecha. O
Brasil suporta uma empresa estatal por mais de três anos consecutivos no
vermelho, com prejuízos bilionários? — ressaltou Campos.
A mudança mais sensível para a
sociedade em geral na atuação dos Correios será a chamada Distribuição Diária
Alternada (DDA). Os carteiros não passarão mais todos os dias nas localidades.
Os profissionais seguirão um calendário com algumas passagens por semana, em
linha com a redução do número de correspondências enviadas onde existe
monopólio dos Correios.
— As pessoas não precisam mais da frequência diária dos carteiros. Com uma
queda expressiva da atividade postal, você (não pode) querer manter o mesmo
nível de serviço do passado — explicou Campos.
Segundo o presidente da estatal, o
calendário vai ser distribuído a cada localidade para haver previsibilidade
sobre as entregas, que também deverão ocorrer mais cedo. Bancos e prestadores
de serviços, que encaminham faturas com maior frequência, terão de ser
procurados para debater um novo cenário com maior previsibilidade, diz o
executivo:
— A DDA vai permitir incluir áreas que
não são cobertas atualmente, como novos bairros.
O aperto de cintos inclui suspensão de
férias de funcionários até abril de 2018 e suspensão de horas extras para
cortar despesas. Além disso, para estancar o que responde por cerca de dois
terços do prejuízo anual, os Correios vão enxugar o plano de saúde, que hoje
inclui cobertura para famílias e pais dos servidores. Os Correios pagam 93% do
custo per capita do plano. Mas, diante de um conflito com o sindicato, a
discussão pode acabar na Justiça.
— Não quero acabar com o plano de
saúde, nem o ministro Gilberto Kassab, mas, se não houver acordo entre nós, vai
vir (da Justiça e do governo) uma decisão dura nesse sentido, por causa da lei
do teto de gastos. Não virá dinheiro do Tesouro para cobrir esse tipo de coisa
— afirmou Campos.
‘RENTABILIZAR A PRESENÇA NACIONAL’
Depois de um plano de demissão
incentivada que vai afastar 5.500 servidores, a estatal discute a adoção de
meios juridicamente viáveis para reduzir ainda mais o número de funcionários
nos próximos meses, principalmente os mais antigos e de maiores salários.
Embora as agências dos Correios estejam em reavaliação para evitar sobreposições,
a empresa quer manter a presença em todo o país para prestar mais serviços
públicos, como entrega de passaportes e carteiras de trabalho e retirada de
CPFs — na linha do que ocorre no PoupaTempo.
— Não quero perder a presença nacional,
que é um grande ativo da empresa. Temos de achar uma solução para rentabilizar
essa presença nacional, que antes era custeada pela atividade postal, hoje em
decadência no Brasil e no mundo — explicou Campos.
Para setores em que existe o monopólio
de envio de cartas, Campos diz que deverá ser aplicado este ano um aumento de
6% nas tarifas, para repor aquilo que tinha sido represado no passado. A partir
de então, permaneceriam apenas os reajustes para repor inflação. Em 2016, as
tarifas já subiram mais de 18%.
Campos apontou, ainda, o resultado dos
primeiros dias de vendas de celulares em doze agências. Nos primeiros nove
dias, foram 1.173 unidades vendidas, resultado mais de três vezes superior ao
que se previa. Só são comercializados chips pré-pagos e de baixo custo nessas
agências, inicialmente.
A reestruturação prevê política mais
agressiva para o Sedex, a fim de baixar o preço, melhorar a qualidade da
entrega e concorrer com empresas de logística. A política de patrocínios foi
revista e caiu a 25% do valor anterior, deixando algumas confederações
esportivas e incluindo outras, como rúgbi.
OGlobo
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