terça-feira, 15 de outubro de 2024

Tentativa de reduzir custos levou ao erro em testes de HIV em doadores de órgãos, diz polícia

 


Rachel Dias/Agência O Dia



A tentativa do PCS Lab Saleme de diminuir custos levou ao erro de testes de HIV em doadores de órgãos, que provocou a infecção de seis pacientes transplatados. Em coletiva de imprensa na Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte, nesta segunda-feira (14), o secretário de Estado de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que as investigações iniciais apontam uma falha operacional de controle de qualidade nos testes de diagnóstico do vírus. O objetivo do laboratório era obter lucro.

O diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada, André Neves, explicou que os reagentes dos testes precisavam ser analisados diariamente, mas houve determinação para que fosse diminuída a fiscalização, que passou a ser feita semanalmente, visando a "maximização de lucro, deixando de lado a preservação e a segurança da saúde dos testes". Segundo ele, "nessa lacuna, você flexibiliza e aumenta as chances de ter algum efeito colateral, esse efeito devastador que nós estamos analisando". O delegado não revelou quem ordenou a mudança na frequência das análises, porque o inquérito segue em sigilo.

"O reagente, é feita uma análise qualitativa de forma diária, esse é o padrão a ser seguido. Até dezembro era feito dessa forma. O que a gente apurou nos depoimentos colhidos até então e os dados que estamos levantando no bojo do inquérito, é que mudou esse protocolo, onde a análise passou de ser diária para ser semanal. Qual é a ideia disso? Você diminuir o custo. Quando você diminuiu o custo, você aumentou o risco. Quem for o responsável por isso, nós já estamos apurando, será devidamente responsabilizado", disse Neves.

A Polícia Civil cumpriu, ainda na manhã desta segunda (14), 11 mandados de busca e apreensão e dois de prisão, sendo um deles contra Walter Vieira, ginecologista e sócio majoritário do PCS Lab. O segundo preso é Ivanilson Fernandes dos Santos, responsável técnico do laboratório e quem realizava as análises clínicas para sorologia de HIV. Ele foi detido com roupas de enfermeiro. Além deles, estão foragidos Jaqueline Iris Bacellar, que assinou um dos laudos com o registro profissional de uma biomédica que não atua mais na área, e o técnico de laboratório Cleber de Oliveira Santos.

Na ação, também foram conduzidos para prestar esclarecimentos o filho e a irmã do médico e também sócios da empresa, Mateus Vieira e Márcia Vieira. De acordo

com o secretário Felipe Curi, eles não foram alvo de mandados de prisão, porque a primeira fase da Operação Verum mirou os envolvidos nos processos de coleta dos exames, na logística e na parte operacional dos testes.

Walter é casado com a tia do deputado federal e ex-secretário de Saúde do estado do Rio, Dr. Luizinho. A empresa foi contratada pela Fundação Saúde, no mesmo período da gestão do parlamentar. Já Matheus é primo do político. Procurado, o Dr. Luizinho afirmou que conhece o laboratório há mais de 30 anos e que ele foi dirigido, inicialmente, pelo pai do médico. O político também lamentou o ocorrido e desejou ao fim das investigações "punição exemplar para os responsáveis por esses gravíssimos casos de contaminação".

Sobre o laboratório prestar serviços durante a sua gestão, o ex-secretário de Saúde garantiu que manteve a mesma equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e que nunca participou da contratação deste ou de qualquer outro Laboratório. Os envolvidos são investigados por diversos crimes como as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.

Apesar do parentesco, o deputado federal e ex-secretário não foi investigado pela operação. Segundo Curi, todos os alvos de mandados foram citados nas investigações, depoimentos e nos elementos colhidos inicialmente. "No desenrolar das investigações e a partir da análise das novas evidências colhidas hoje, nós vamos chegar a qualquer pessoa, independentemente de quem seja, desde que as provas apontem nessa direção", disse o secretário.

O Dia

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