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A legislação da Anvisa permite um limite para corpos estranhos Foto: (iStock/Getty Images) |
A Proteste,
associação de defesa
do consumidor, divulgou nesta quinta-feira os resultados de um teste de segurança
alimentar –
com base no regulamento técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – em amostras de oito marcas de café e
farinha de trigo disponíveis no mercado. Entre as marcas testadas de café em pó –
Caboclo, Pilão, Melitta e 3 Corações – e de farinha
de trigo, Dona Benta, Renata, Sol e Rosa Branca – duas
apresentaram quantidades de matérias estranhas, como fragmentos de insetos e roedores, superiores à permitida por lei.
Quantidade permitida
Conforme a legislação da Anvisa, a quantidade permitida de
corpos estranhos nos alimentos analisados é de 60 fragmentos de insetos em 25
gramas de café em pó e 70 fragmentos em 50 gramas de farinha de trigo.
Os resultados mostraram que as amostras das marcas Caboclo e Pilão não
indicaram a presença de matérias estranhas microscópicas ou microscópicas. Já a 3 Corações,
apesar de estar dentro do limite permitido, apresentou 15 fragmentos na amostra
de 25 gramas.
Em relação às marcas de farinha de trigo, a amostra da marca Renata indicou a
presença de 33 fragmentos de inseto, já as
das marcas Dona Benta e Rosa Branca apresentaram três e cinco fragmentos por 50
gramas, respectivamente.
Inseto morto
Por outro lado, o café Melitta apresentou uma
quantidade superior à permitida pela vigilância sanitária. A amostra analisada
revelou 13 fragmentos de 25 gramas e um inseto inteiro morto – que não está previsto na
legislação. Segundo a Proteste, isso indica a possibilidade de falhas no
processo de produção, manipulação ou armazenamento do produto.
Pelo de rato
Enquanto isso, na amostra da farinha Sol foram
encontrados 25 fragmentos de insetos e um pelo de rato. Apesar de a quantidade
de insetos estar dentro da lei determinada pela Anvisa, pelos de roedores não são permitidos nesses produtos. A agência
autoriza um pelo de roedor para cada 100 gramas de produtos de tomate, por
exemplo, mas esse regulamento não se aplica à farinha de trigo.
O que
dizem as empresas
Em
posicionamento enviado por e-mail a Melitta afirmou: “Em relação aos testes realizados pelo Instituto Proteste com um
lote especifico do café em pó Tradicional embalagem Pouch 500g da Melitta do
Brasil, a empresa afirma que desconhece os procedimentos utilizados para o
teste dos produtos e reitera que prima pela qualidade, atende e respeita todas
as regras da legislação aplicada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária).
A marca tem como prioridade
entregar a excelência no produto final e, para isso, possui diversos processos
de controle, além de certificados que comprovam o alto nível de qualidade em
seus processos, como o Selo de Pureza ABIC (Associação Brasileira da Indústria
do Café), o Certificado ISO 9001 de gestão de qualidade, o Programa de
Qualidade do Café da ABIC e o Programa de Boas Práticas de Fabricação.
A empresa afirma ainda que
realiza análises periódicas com laboratórios independentes certificados e que
em nenhum momento foram encontradas as irregularidades divulgadas pelo
Instituto Proteste. Por respeito e responsabilidade ao consumidor, a Melitta do
Brasil vai recolher o lote em questão para refazer as análises.”
Também
por e-mail, a J.Macêdo, fabricante da farinha de trigo Sol, disse: “A J.Macêdo, fabricante da farinha de trigo Sol, tem laudos de
laboratório credenciado pela ANVISA (anexos) que atestam não ter sido
identificada nenhuma inconformidade no mês de produção indicado pelo número
parcial de lote divulgado pela Proteste. O mesmo vale para os meses anteriores
e posteriores ao fato, no que se refere à presença de materiais estranhos. A
J.Macêdo tem contraprovas dos lotes de produção e já os submeteu a exame em
laboratório externo credenciado pela ANVISA, a fim de resguardar e dar a seus
consumidores a garantia de seu rigor em relação aos seus procedimentos de
fabricação.
A J.Macêdo afirma com base no
número parcial de lote divulgado pela Proteste que nenhum lote produzido no mês
em questão apresentou problemas, de acordo com os laudos citados acima. A
Proteste também não comunicou a sua metodologia de amostragem, nem condições de
armazenamento e coleta e nem se o laboratório que executou o teste é
credenciado pela ANVISA.
Todas as unidades da J.Macêdo
seguem rígidos controles de qualidade e rotinas de análise sistemática, com
procedimentos de boas práticas de fabricação e controle de pragas minucioso. Se
por algum motivo um produto se apresente fora da especificação, o lote inteiro
do qual ele faz parte é descartado, conforme as regras da ANVISA e as melhores
práticas de segurança alimentar.”
A Selmi,
empresa responsável pela farinha de trigo Renata disse
por e-mail: “A Selmi, empresa com mais de 130 anos de mercado e que produz há
mais de 50 anos a farinha Renata, reforça que mantem seu foco na total rigidez
do controle de qualidade em toda a sua cadeia produtiva. A companhia afirma
que, de acordo com o teste realizado, o produto segue as especificações
permitidas pela legislação brasileira.”
Por
e-mail, a Associação Brasileira
da Indústria (Abic) esclareceu
que “os limites estabelecidos [pela Anvisa] são seguros do ponto de
vista da saúde e baseados nos métodos de produção de alimentos no Brasil. Todo
produto agrícola está sujeito à presença de insetos na lavoura, tais como
frutas, verduras, grãos e com o café não é diferente. A mais conhecida é a
“broca do café” (Hypothenemus hampei), que é um artrópode (inseto) típico da
cultura do café e é classificada pela norma como “sujidade leve”. Sua
existência não indica falta de boas práticas na indústria de café, lembrando
que insetos são usados também em controle biológico no campo e podem seguir
junto com a matéria-prima.
A broca é um tipo de caruncho natural do grão e é um inseto não
nocivo à saúde humana. A broca nasce na lavoura e se instala no grão enquanto
ele está em crescimento na planta. Ela penetra dentro do grão de café na árvore
ou após a colheita, o que torna impossível retirá-la de dentro dos grãos. Com o
aumento da incidência de broca no cafezal, ocorre um aumento do número de grãos
brocados nos lotes existentes no mercado.
A indústria de café tem adotado
limites cada vez mais rígidos e menores para a presença de broca nos lotes de
café que ela adquire. Isto tem sido um procedimento cada vez mais rigoroso por
parte das indústrias e é uma exigência da ABIC aos seus associados em seus
programas de qualidade e certificação. A ABIC tem mantido contatos frequentes
com a Anvisa para interpretar o método de análise indicado pela norma para a
avaliação do café. A conclusão é que o método de análise por quantificação de
fragmentos é inadequado e não assegura confiabilidade aos resultados pois em
testes realizados pela ABIC o mesmo produto pode apresentar resultados
diferentes e com isto prejudicar a avaliação e as marcas testadas. O assunto
ainda necessita de mais estudos e discussões.
Importante lembrar que o grão
de café é torrado a 230ºC, moído e no preparo da bebida a água, junto com o pó
de café passam por um coador e/ou filtro, eliminando qualquer possibilidade de
algum fragmento estar presente na xícara do consumidor.(…) As indústrias
associadas têm produtos certificados com o Selo de Pureza e Qualidade, e
garantem a segurança alimentar. A presença da broca tem sido combatida e
discutida exaustivamente com a Anvisa desde 2015, inclusive quanto à validação
do método de análise e contagem dos fragmentos de broca. A Associação
Brasileira da Indústria de Café – ABIC, reitera seu compromisso com a segurança
alimentar e o respeito aos consumidores e vai ampliar seu monitoramento sobre
os cafés no mercado, especialmente com relação a incidência da broca e com o
espírito da autorregulamentação, que fez dos seus programas de certificação um
exemplo em todo o mundo e no Brasil.”
As empresas responsáveis pelas
demais marcas citadas não se manifestaram sobre o assunto até o fechamento
dessa matéria.
Veja
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