segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Aos 79 anos, Renato Aragão estreia no teatro

Comediante será a estrela de Os Saltimbancos Trapalhões — O Musical, peça de Charles Möeller  e Claudio Botelho

Há um mês, o ritmo dos ensaios na Cidade das Artes se intensificou. Cerca de seis horas diárias, seis dias por semana, têm ocupado os 31 integrantes do elenco, doze deles artistas de circo. No comando da trupe, que inclui ainda oito músicos, Claudio Botelho (direção musical) e Charles Möeller (direção e texto) preparam seu próximo espetáculo. A estreia no palco da Barra, dotado de imponente boca de cena de 11 metros de altura e 24 metros de extensão (dimensões maiores do que as do Theatro Municipal), está prevista para sexta (3). Tudo na nova produção é grandioso, mas encolhe diante do protagonista escolhido: Renato Aragão, aos 79 anos, faz sua estreia no teatro. Entre parceiros das antigas, como Dedé Santana e Roberto Guilherme (o popular Sargento Pincel), tarimbados atores de musicais e acrobatas, o ator e humorista vai encarnar Didi em Os Saltimbancos Trapalhões — O Musical. Como o nome sugere, trata-se de uma adaptação de Os Saltimbancos Trapalhões, filme de 1981. Dirigido por J.B. Tanko, o longa estrelado por Didi, Dedé, Mussum (1941-1994) e Zacarias (1934-1990) conquistou mais de 5 milhões de espectadores. Möeller e Botelho, bem-sucedidos realizadores de musicais — Como Vencer na Vida sem Fazer Força (2013), Um Violinista no Telhado (2011), Avenida Q (2009), entre muitos outros —, têm um tesouro nas mãos: trama conhecida e querida, trilha sonora repleta de canções de Chico Buarque, como Piruetas, Hollywood e História de uma Gata, e o début de Renato Aragão no palco. Ocorre que o astro está um tanto intimidado.
“Minha preocupação é saber se vou corresponder”, diz o ícone do humor brasileiro, estrela de cinquenta filmes e que, na TV, encantou milhões por 25 anos com o programa Os Trapalhões. Claudio Botelho acha graça. “Ele chegou ao primeiro ensaio com tudo decorado, sabia as marcas com precisão, deu um banho nos novatos; alguns até caíram no choro”, conta o diretor. O palhaço Didi, logo se conclui, é bem mais despachado do que o cearense Antônio Renato Aragão, mas os dois se ajudam um bocado. Quando não encarna o personagem, o ator é um homem reservado, de hábitos simples. Em casa, na Barra, faz exercícios diários na esteira e na piscina. Sua dieta exclui terminantemente frituras, doces e carnes vermelhas. “Daqui a pouco estou fazendo fotossíntese”, conclui, em momento Didi. As poucas escapulidas são dedicadas a um vinho entre amigos e familiares, geralmente em restaurantes de carnes da cidade, como o Pobre Juan. Os maîtres já conhecem seu gosto e o freguês ilustre sempre troca o bifão por um prato de massa preparado sob medida. Renato Aragão está certo de que seu comportamento espartano o livrou de maiores complicações quando foi internado com quadro de infarto agudo do miocárdio, em março deste ano.
Inteiro, sentindo-se, “pela vontade física, com 35 anos”, o comediante nem pensa em aposentadoria. “Quem tem projeto não envelhece”, explica. Didi e o Segredo dos Anjos, um telefilme, tem lançamento previsto para o Dia das Crianças. O roteiro do longa seguinte está pronto, e o desejo de escrever um livro de contos já o levou a alinhavar algumas histórias. Além de acompanhar o dia a dia da Renato Aragão Produções Artísticas, ele conta com o apoio empresarial da mulher, Lilian. Caçula de seus cinco filhos, a atriz Lívian, 15 anos, está com o pai no elenco do musical, assim como o namorado, Nicolas Prattes. “O moleque tem caráter. Estou mais calmo, mas não muito”, adverte o sogrão.
Entre tantas atribuições, a grande novidade é mesmo seu primeiro papel no teatro. Na Cidade das Artes, Didi e Dedé serão empregados de um circo que esbarram com o conto “Os Músicos de Bremen” e decidem encená-lo — o clássico dos Irmãos Grimm, como se sabe, inspirou Os Saltimbancos, espetáculo criado na Itália por Luis Bacalov e Sergio Bardotti, e adaptado por Chico Buarque. Na montagem, o sucesso da dupla incomoda os malvados Barão (Roberto Guilherme), o dono da lona, e Assis Satã (Nicola Lama), o mágico. Essa é a deixa para os números de picadeiro e cantoria que vêm exigindo tantos ensaios. Empolgado como um iniciante, o artista consagrado a caminho dos 80 anos — faz aniversário no dia 13 de janeiro — dispensou o stand-in, um eventual substituto. Ou seja: só haverá sessão com ele no palco. Ao “da poltrona”, já avisa que cantar não é seu forte e, gaiato, joga a culpa no alter ego. “Quem vai estar lá em cena é o Didi, não sou eu, não.” 




VEJA RIO

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